CRÔNICAS DO CORAÇÃO
Há muito tempo,
O coração tem sido descrito
Como um espaço;
Câmaras ocas, preenchidas momentaneamente
Por algo que entra e sai
Pulsando.
O que faz pensar que a vida
É apenas um lapso de tempo
De vida e morte, a cada espaço vazio
Preenchido ou esvaziado.
Há ainda os que o vêem como prêmio,
Um objeto-troféu, que não faz parte de um todo,
Com concorrentes, com disputas
Até mesmo covardes
Em que o mérito de tudo
Está numa conquista sem pódio.
O que perde o sentido de algo a ser dado,
Um presente que não é esperado
Mas é desejado mais que tudo
No final de uma data especial.
Há ainda os que o esquecem,
Os que o deixam tão imperceptível,
Tão prostrado e esquecido
Que o seu único sentido
É dividir dois espaços com uma porta
O de viver e o não mais estar aqui.
Algo tão mais abstrato e incerto
Do que ter fé em coisas que não são visíveis
Mas são tão mais tocáveis ao ponto
De trazer de volta quem atravessou a porta sem querer.
Aos poucos, os vivos, livres de qualquer descrença
Faz-se coração de todos os momentos cheios de vida
Com fé de que a porta, aberta, é só mais uma razão
Para querer voltar, sorrir, pulsar
Preencher espaços vazios e premiar
O tempo com mais uma vida.
Marcelo Bonates (O Trovador)
02.06.2008